Respiração e Consciência

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RESPIRAÇÃO E CONSCIÊNCIA

RECONSIDERANDO A VIABILIDADE DO TRABALHO RESPIRATÓRIO NAS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS E ESPIRITUAIS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Peter Levine, Ph.D. & Ian Macnaughton, Ph.D.

Tradução: Diana Fontoura

Sumário

Este documento oferece uma estrutura conceitual e diretrizes para a utilização de técnicas respiratórias como uma ferramenta no desenvolvimento psico-espiritual. O objetivo é ampliar o campo teórico e prático para terapeutas que utilizam a observação do corpo e especificamente padrões respiratórios no transcurso da psicoterapia. Explora-se a relação entre respiração e consciência e identificam-se dois padrões ou estilos principais de resposta respiratória. O estudo discute a importância de se observar o padrão respiratório de um indivíduo, e são fornecidos parâmetros para avaliar tais padrões e dar seguimento à intervenção. São fornecidas diretrizes para uma intervenção adequada aos terapeutas que trabalham com ambas as questões de traumas de choque e de desenvolvimento. Isto inclui quaisquer contra-indicações e cuidados que possam ser necessários se forem utilizadas intervenções respiratórias com pacientes que possuam diversas condições médicas, psicológicas e espirituais.

A informação contida neste artigo não deve levar o leitor a assumir que um terapeuta deva utilizar as técnicas de respiração como abordagem preferencial. A idéia principal é esboçar alguns dos parâmetros para o terapeuta considerar se deve trabalhar dessa forma ou não.


Introdução

Nosso mundo está passando por uma mudança rápida e complexa nas atividades sociais, econômicas e políticas. Os afazeres dos seres humanos estão se tornando cada vez mais turbulentos e incertos, e precisamos aprender novas formas de administrar essa incerteza e nos mantermos em dia com o ritmo crescente da mudança. Assim sendo, cada um de nós é desafiado a fazer ajustes apropriados para manter algum grau de estabilidade no mundo.

Alguns teóricos estão alarmados com a aparente falta de habilidade da sociedade para lidar com a inundação de novas informações, tecnologias, forças socioeconômicas e questões políticas locais, nacionais e mesmo globais. Uma vez que a mudança, por si mesma, demanda ajustes, nós devemos corresponder de formas novas que estejam fora de nossas experiências pessoais e sociais. Isto requer inovação e flexibilidade e devemos desenvolver a habilidade de pensar em termos de relacionamentos complexos associados com o processo de mudança.

Não apenas a mudança é desafiadora em si mesma, como também a taxa de mudança está aumentando. Em seu livro de 1971, Future Shock, Toffler salienta o fato de que é absolutamente necessário desenvolver a capacidade organizacional para tratar com a mudança, se quisermos lidar com sua aceleração de maneira bem sucedida. De acordo com Toffler, “o choque do futuro é a desorientação vertiginosa causada pela chegada prematura do futuro e pode ser a doença mais importante do amanhã”.



O desafio de ser pró-ativo no desenvolvimento de nossa capacidade para lidar com essas mudanças efetivamente é grande, e muitos especularam sobre nossa habilidade para tal.

Russell identificou o aumento exponencial na quantidade de informação que devemos confrontar, e Campbell se pergunta “se iremos, em breve, vaguear por uma outra fase de escuridão”.

Como indivíduos, precisamos encontrar novas formas de lidar com este grau de velocidade da mudança, e desenvolver métodos coletivos para transformar o desafio que ele apresenta, em oportunidades para melhorar a condição humana a nível local, nacional e global. O trabalho respiratório é uma resposta importante ao desafio.

Seção 1: Respiração e Consciência

Por milhares de anos, a atenção na respiração tem sido um foco significativo em muitas práticas psicológicas e espirituais. Muitos dos sistemas orientais relacionados ao desenvolvimento humano são, na verdade, psicologias para o desenvolvimento que iniciam no ponto onde as psicologias ocidentais terminam. Sistemas orientais e shamânicos utilizam a respiração tanto para o desenvolvimento psicológico como para o crescimento espiritual e, ao contrário do sistema ocidental, eles não fazem uma diferenciação entre ambos.

Nas culturas orientais existem duas abordagens principais para se trabalhar com a respiração. A primeira utiliza a percepção da respiração para desenvolver um foco de consciência plena, a segunda utiliza a respiração forçada ou hiperventilação como uma forma de gerar experiências transformadoras, como na Kundalini ou outras yogas. Nas culturas shamânicas orientais, geralmente levam-se anos de treinamento, meditação, controle e conscientização sob a orientação rígida de um professor, shaman, mestre ou guru, para que um indivíduo esteja apto para utilizar a respiração e a energia do corpo (bio-energia) para transformação pessoal.

No ocidente, existem várias novas abordagens para se trabalhar com a respiração. Uma das mais recentes envolve o uso da “alta energia” da hiperventilação, geralmente descrita como o uso das metodologias orientais traduzidas para os termos ocidentais. Como exemplos, incluem-se o Trabalho Respiratório Holotrófico de Grof, alguns tipos de renascimento, e certas versões ocidentais das práticas shamânicas.

Os autores deste trabalho têm algumas preocupações em relação a este tipo de “alta energia” da hiperventilação. Tal respiração geralmente é conduzida sem uma preparação e orientação extensiva, que faz parte das tradições orientais e shamânicas de exploração da consciência. Quando tentamos importar técnicas orientais para nossa cultura precisamos considerar o contexto dentro do qual elas foram desenvolvidas, posto que os seres humanos funcionan de forma consistente com a sociedade e com o contexto. Nosso desafio é desenvolver técnicas de trabalho respiratório que sejam coerentes com a cultura ocidental.

Tradicionalmente, atividades esportivas formam a base para o modo ocidental de trabalhar com a respiração e com o corpo. Esse modelo “do gladiador ou guerreiro” enfatiza os aspectos físicos da respiração – de estar realmente vivo no corpo.  Neste contexto, os ocidentais correm o risco de utilizar a abordagem da respiração de “alta energia” sem um sentido global da estrutura subjacente a este conceito. No ocidente, a utilização de métodos respiratórios culturalmente adequados para o desenvolvimento psico-espiritual está em evolução. Nós acreditamos ser importante ir além de considerá-la como uma técnica, e

argumentamos em favor de uma abordagem conservadora na utilização da respiração para a transformação da consciência.

Para decidir que abordagens são adequadas, os terapeutas precisam entender o processo de transformação pessoal e reconhecer em que momento acontecem mudanças significativas de percepção. É importante que eles reconheçam os efeitos das diversas abordagens dos trabalhos respiratórios, como a hiperventilação, em nosso funcionamento como organismos, se influenciam devido ao fato de estar dentro de um contexto cultural específico ou pelo fato de possuir uma psicofisiologia específica.

As origens da psicologia ocidental são relativamente recentes quando comparadas aos diversos sistemas em uso mundialmente, que explicam, controlam e afetam a condição humana. O primeiro psicólogo ocidental a considerar a respiração e seus efeitos na consciência foi Freud. Já em idade avançada, ele desenvolveu uma consciência rudimentar das mudanças respiratórias no sistema nervoso, e das mudanças vegetativas (autônomas) vivenciadas por seus pacientes durante o que ele acreditava ser regressões de nascimento.

Foi Wilhelm Reich, um aluno de Freud, quem se tornou o principal pesquisador no campo da respiração. Reich utilizou padrões respiratórios mais ativos e provocação muscular para dissolver o que ele denominava de couraça de caráter. Sua teoria era que a neurose da pessoa é interligada com uma tendência a criar armaduras, como uma defesa contra sentir a plenitude de um Self mais saudável. Essa armadura toma diversas formas, conforme o distúrbio específico do paciente. Qualquer que fosse a forma, ela sempre tem a função de interromper a sensação da pulsação, um vigor central que ele denominou “força vital”.

Jung também trabalhou com a respiração, utilizando-a como uma ferramenta para o relaxamento e a liberação da imaginação ativa. Alguns analistas Jungianos utilizam um processo de consciência respiratória, soltando a respiração muito sutil e lentamente, permitindo imagens, pensamentos, sensações e experiências inconscientes emergirem.

Nós acreditamos ser importante utilizar a sabedoria de ambas as visões, oriental e ocidental, do desenvolvimento humano. O mundo ocidental contribuiu bastante para a compreensão da função da neurofisiologia no funcionamento dos indivíduos. Nós reconhecemos que, para um organismo existir e sobreviver, ele necessita de um sistema nervoso regulador com duas qualidades principais: uma estabilidade básica e uma capacidade de flexibilidade, mudança e adaptação.

A estabilidade e a flexibilidade devem existir em um equilíbrio dinâmico. Ao oscilar dentro de um limite estreito o suficiente para manter a homeostase, elas criam um estado constante que nos dá a consistência de sermos capazes de funcionar como seres humanos. Cada aumento no nível de auto-regulação no funcionamento gera um novo estado estável, e este novo padrão de estabilidade provê o alicerce para o nível seguinte de flexibilidade, e assim por diante.

Originalmente, Reich considerava a terapia como um processo para reduzir ou quebrar a armadura. Nós precisamos repensar o que isso realmente significa, uma vez que a redução ou dissolução da armadura de um indivíduo pode desorganizar todo o seu sistema de adaptação e de como ele lida com a vida. Quando nós, como terapeutas, intervimos na remoção de algumas dessas armaduras de defesa, torna-se essencial encontrar outros




recursos mais funcionais para o indivíduo. Isto o capacita a manter a estabilidade que ele necessita para se manter funcional no mundo.

Quando Reich originalmente desenvolveu esse processo de desencouraçamento, na Alemanha da 2º pré-Guerra Mundial, as pessoas tinham mais defesas do que têm hoje – um ponto importante no desenvolvimento atual de teoria e prática. Agora, nosso propósito deveria ser criar mais funcionalidade e organização, e utilizar essa perspectiva ao considerar qualquer novo tipo de intervenção no funcionamento psicofisiológico de uma pessoa, de forma que esses recursos possam ser acessados integralmente a longo prazo.

Por exemplo, podemos olhar o que acontece quando energia transformadora é aplicada ao organismo humano. Quando ela é introduzida prudentemente, o organismo ou sistema é capaz de reorganizar-se num nível maior de estabilidade e aumentar seu potencial para uma flexibilidade futura. No entanto, se a energia for introduzida em grandes quantidades, sobrecarregando o sistema acima de sua habilidade de manter seus limites de contenção, o sistema sucumbe numa desorganização caótica.

Hoje, extremos comportamentais coexistem em muitas pessoas, elas podem apresentar uma rigidez excessiva e uma tendência simultânea a serem desfocadas ou dispersas em suas energias. Uma pessoa que utilize métodos intensos de respiração de alta energia para ampliar a consciência, pode agir sob a ilusão de estar se tornando mais espiritualizada e evoluída, quando na verdade está se tornando, fundamentalmente, mais dissociada. Ela pode adotar a hiperventilação e experimentar algum tipo de alívio, ou pode criar uma dissociação adicional. Como regra geral, quando um sistema se move demasiado para fora do seu equilíbrio, ele continuará gerando uma desestabilização adicional, sem perceber. É por isto que acompanhar o “processo” de uma pessoa repetitivamente irá, geralmente, reforçar o padrão mal-adaptativo.

No entanto, intervenções graduais podem permitir que o organismo mantenha a integridade, maximize o processo de reorganização funcional e desenvolva o potencial para maior flexibilidade – contanto que esta flexibilidade esteja contida por um sistema estável e aumente gradativamente. O processo de utilizar pequenas intervenções, avaliando o impacto e reavaliando o que fazer em seguida, é um processo que denominamos titulação.

Através da evolução, os organismos desenvolveram maneiras de lidar com as tentativas de mudar o status quo, e quaisquer tentativas de alterar estas capacidades de enfrentar as situações têm que mover-se lentamente. A sabedoria natural da neurofisiologia, e a maneira como ela conseguiu lidar com as tentativas de mudar sua orientação no mundo, deve ser respeitada: Nós não podemos mudar, da noite para o dia, aquilo que evoluiu através de milhões de anos. Se fosse possível efetuar mudanças significativas rápida e facilmente, nós não seríamos flexíveis, mas instáveis!

A introdução repentina de quantidades consideráveis de energia, conforme acontece durante intensa hiperventilação e catarse, pode desestabilizar a organização do “Self” de uma pessoa. Se uma pessoa foi excessivamente estável, poderá sentir-se bem ao experimentar se soltar. Isto pode fazê-la sentir-se como, “Uau, estou do outro lado, estou livre, estou flutuando com o cosmos”. No entanto, com esta sensação de flutuação pode vir uma desorganização do Self, de forma que a pessoa não consegue refazer o seu caminho com passos pequenos; ela precisa forçar a respiração completamente, ou não forçá-la em hipótese alguma. É bem parecido com a ingestão de drogas como o LSD. A droga desestabiliza a química fisiológica e isto desestabiliza o funcionamento do Self. Ninguém pode dizer exatamente qual é o efeito.

O LSD pode ser útil em certas circunstâncias, e pode abrir as portas da percepção, mas também inicia um processo potencialmente desorganizado. Na maioria dos casos, as pessoas não sabem como usar a experiência para realizar mudanças úteis, e isso pode levar a resultados muito disfuncionais.

Trabalhar com a respiração também pode abrir uma percepção para outras realidades, e para outras dimensões de consciência. Nesta forma de intervenção terapêutica, a arte está em saber integrar essas experiências na totalidade da personalidade, e fazer isso de forma que seja saudável para o desenvolvimento e para a psicofisiologia da pessoa. Se o trabalho respiratório for utilizado sem uma integração adequada, ele simplesmente recriará o mesmo antigo caminho disfuncion com o qual a pessoa estava originalmente lutando. Isso não abordará o processo criativo de desintegração e reorganização, nem introduzirá nova informação ou padrões estabilizadores paralelos para apoiar o senso de integração e totalidade da pessoa.

A experiência necessita ser integrada adequadamente, num processo repetitivo, crescente e auto-organizador. Isto é o que conduz todos os nossos processos de desenvolvimento e espirituais. Isto pode ser visto na experiência de uma criança. A cada estágio de desenvolvimento a criança adquire novas habilidades e então passa para um novo estágio, tal como o ‘terríveis dois anos’, e a ordem se desintegra. No entanto, cada estresse emocional ou mental é seguido por uma nova síntese significativa.

Uma criança não pode ser transformada em um adolescente através da ingestão de um medicamento; o medicamento simplesmente geraria um distúrbio em sua realidade. Ela não teria a experiência de vida para conter adequadamente à energia das gônadas de um adolescente, e ficaria seriamente desorientada. Isto é o que acontece quando se utilizam medicamentos e métodos de respiração intensa para criar experiências intensas. A pessoa necessita de informação, preparação, experiência, bem como ir passando através das fases de desenvolvimento, antes que estas experiências possam ser integradas como um deslocamento que faz parte do desenvolvimento em direção à realização de seu potencial completo.

Alguns indivíduos podem se fixar em torno de “novos caminhos”, como o uso da respiração intensa, de forma que possam continuar a ter experiências intensas. Quando isto acontece, indica uma adição ao processo. Certo tipo de experiência pode precisar ser gerada várias vezes para que seja resolvida sem que a pessoa se sinta incompleta ou tenha uma sensação de perda. As pessoas que têm a tendência a se tornarem fixadas (adictas) a certo tipo de experiência, podem não ser capazes de se ajustar de maneira bem sucedida à intensidade da intervenção utilizada e os mecanismos saudáveis de defesa podem entrar em colapso, reduzindo assim, sua capacidade de atuar. Isto pode resultar em ansiedade específica ou generalizada, somatização, doença, psicose ou depressão.

Algumas das novas psicologias, inclusive aquelas que utilizam os métodos de hiperventilação, focaram na catarse, no tema expressivo ‘deixe sair’, e há muita preocupação em relação a esta técnica. Em 1990, Gendlin demonstrou sua preocupação em relação aos perigos do trabalho catártico e analisou as teorias de Janoff, contrastando-as com as de Levine e Grove.

Seção 2: Respiração, Ansiedade e Consciência

Aqui examinaremos a relação entre respiração, ansiedade e consciência. Iremos nos referir aos dois padrões respiratórios diferentes e seus efeitos na consciência.

Padrões respiratórios
Existem dois padrões respiratórios básicos que pode ser útil compreender no contexto da psicoterapia: hiperventilação e hipoventilação. Estes padrões são duas polaridades em um continuum de padrões respiratórios que vão desde a respiração ofegante até uma respiração muito superficial, limitada.

O uso do termo hiperventilação pode levar a conclusões errôneas. A maioria das pessoas denominadas hiperventiladoras são, na verdade, hipoventiladoras que apresentam episódios periódicos de hiperventilação relativa. Os verdadeiros hiperventiladores são agressivos, indivíduos do tipo A, que desenvolvem uma vitalidade, uma energia, através do bombeamento de sua respiração. Essas pessoas normalmente são vistas malhando nas academias e elas progridem numa carga e excitação constantes em suas vidas. Elas precisam ser sensibilizadas para sua capacidade de pulsação interior e se desvencilhar dos ritmos que as pressionam e apertam, os quais elas utilizam para desenvolver e perpetuar seu padrão de energia do tipo A.

Em contraposição, os tipos hipo/hiperventiladores, se retraem ao experimentar a carga ou onda de energia. Em seu modo predominante de hipoventilação, o padrão respiratório débil acumula dióxido de carbono no sangue. Isto leva à alteração na acidez do sangue e a um metabolismo incompleto que resulta num aumento sérico láctico (serum lactate), irritando as funções reguladoras centrais do cérebro no hipotálamo e tronco cerebral, contribuindo para os vários problemas digestivos, alérgicos, imunológicos e gerais de baixa energia que frequentemente os afetam.

A hipoventilação repetida predispõe o indivíduo a um desequilíbrio metabólico. Isto desencadeia mecanismos compensatórios que envolvem os sistemas secretores dos rins e pulmões numa tentativa de restabelecer a homeostase. É estimulado um aumento respiratório nos pulmões, o que reduz a acidez do sangue e aumenta a alcalinidade. Infelizmente, esta mudança abrupta no pH, associada com uma ativação simpática dos receptores nos músculos intercostais, produz uma sobrecarga de excitação que leva a uma respiração forçada adicional, o que por sua vez produz ansiedade e ainda mais carga, assim criando um ciclo vicioso crescente; em outras palavras, um ataque de pânico.

Olhando sob uma outra perspectiva, o que está realmente acontecendo é que a respiração forçada gera um padrão de carga que mobiliza a ansiedade, de forma que uma ansiedade crônica de baixo grau se torna aguda. Quando a hiperventilação é levada a extremos, ela remove o controle do córtex e permite que os efeitos ansiosos venham a inundar o sistema, levando a pessoa através do estado ansioso. No entanto, a pessoa retorna à hipoventilação e a ansiedade cresce novamente. Tipicamente, isto resulta em uma alternância entre os estados de hipoventilação (ansioso) e hiperventilação (dissociado).

As pessoas que fizeram muito trabalho respiratório intenso irão, às vezes, criar este padrão. Elas hipoventilam por um período de tempo, quase sem respirar, e então trocam para a hiperventilação. Assim, o sistema não está regulando a si mesmo e não está estável. Em lugar disso, os dois modos estão separados – divididos entre si e desconectados. A respiração se torna disfuncional e descoordenada do funcionamento geral do organismo.

Desta forma, é absolutamente essencial, ajudar os indivíduos hipo / hiperventiladores a conter e regular seu mecanismo de carga, e guiá-los para a normalização dos ritmos biológicos. Isto os ajudará a desenvolver uma estabilidade mais flexível e adaptiva.
Apesar de ser verdade que técnicas que encorajam uma hiperventilação descontrolada podem, em último caso, levar a pessoa à libertação do pânico, este tipo de alternância

eventualmente propicia a uma ampliação ainda maior do padrão. É como colocar o termostato da casa para ligar a calefação a 50°F e desligar novamente a 100°F. Apesar de a temperatura média ambiente ser 75°F, os moradores da casa irão primeiramente sentir frio e depois quase sufocarão. Obviamente, é muito mais desejável ter um termostato que ligue aos 73°F e desligue a 77ºF.

Quando as técnicas de hiperventilação são utilizadas repetidamente, a pessoa é encorajada a dissociar os padrões de hipo e hiperventilação ainda mais, ao invés de restabelecer o equilíbrio respiratório. Isto afasta a pessoa de um repertório dinâmico de experiência, e ela pode perder o senso do self central, essencial. A experiência não é mais contínua e coerente, mas passa a expressar-se em termos desses extremos.

Asim, a experiência interna da pessoa é orientada em torno da ansiedade ou inundação, da contenção e não respirar, ou respiração forçada e inundação. Este fenômeno pode ocorrer na abordagem da Terapia Primal, onde a orientação no sentido de ter um sentimento, geralmente um sentimento de regressão, se torna um objetivo, um caminho que, se acredita, levará ao sentido real de si mesmo.

Se este caminho de gerar experiências intensas se tornar parte da forma de vida da pessoa, ela poderá acabar sem senso de auto-regulação, levando a um senso de self diminuído. Nós acreditamos que o self essencial evolui a partir de um senso de regulação interna, e desta forma, aprender como regular o self é fundamental no pleno desenvolvimento do potencial humano de uma pessoa. Insto inclui prestar atenção às mudanças nos padrões reguladores e então utilizar intervenções adequadas.

Quando nos tornamos conscientes da amplitude das sensações e sentimentos que fluem sutilmente, os quais compõem o processo geral de auto-regulação, orientação, resposta, abordagem e retirada, sabemos que estamos vivos, conectados, e humanos. Todas estas respostas orientadoras se tornam partes da auto-regulação, da homeostase, conforme a pessoa começa a experimentar sua respiração automaticamente.

Na prática pode ser útil gerar uma respiração suave à moderada de forma a acessar diversos estados de afeto e consciência. Por exemplo, ao trabalhar com a raiva de um paciente, um terapeuta pode fazer com que ele empurre a mão do terapeuta com firmeza e expire enquanto empurra. Isto descarrega a energia associada com a raiva. Contudo, o terapeuta não encoraja ou permite que o paciente dramatize a raiva que ele sente. Desta forma, o terapeuta ajuda a conter a expressão de sua experiência emocional.

Seção 3: Intenção na Utilização das Técnicas Respiratórias

Como mencionado anteriormente, a oposição saudável da estabilidade não é a instabilidade; preferivelmente, a flexibilidade é o complemento da estabilidade.

Estabilidade e flexibilidade: dinâmica do sistema
Ao utilizar intervenções respiratórias, o terapeuta necessita desenvolver uma maneira de avaliar os sistemas e parâmetros do paciente para poder projetar uma intervenção que gere tendências adaptivas ótimas. Isto cria várias perguntas: Quais são as tendências adaptivas de uma pessoa?  Quais são as tendências mal-adaptivas? Como podem elas ser avaliadas? Por onde se começa uma intervenção? O terapeuta necessita desenvolver uma abordagem equilibrada, baseada nas intervenções adequadas para cada paciente individualmente.



Avaliação adequada
Como mencionado acima, o hipoventilador é caracterizado por um padrão de evitar a carga. O paciente tem uma ansiedade subjacente da qual ele geralmente não tem consciência, mas que, ainda assim, o guia inconscientemente. O hipoventilador é levado a evitar excitação, tem uma tendência a minimizar o contato intenso e apresenta comportamentos de evitação. Além disso, é provável que tenha questões de desenvolvimento não resolvidas, questões de família-de-origem e outros problemas relacionados com sua estrutura de caráter específica (conforme explicado no texto previamente).

Uma pessoa com uma estrutura de caráter principalmente mental tenderá a ser um hipoventilador, enquanto uma pessoa com uma estrutura de caráter mais emocional, tenderá a alternar entre a hiper e a hipoventilação. A pessoa mais mental pode estar perdida em um mundo de sonhos, com uma orientação para a vida mais filosófica ou espiritual, conectada através de uma causa voltada para tal orientação. Por outro lado, um tipo emocional pode utilizar a hiperventilação para gerar experiências espirituais transcendentes de maneira emocional. Isto, contudo, reforça sua incapacidade de estar no mundo e controlar as emoções.

Na psicoterapia corporal, às vezes acredita-se que o corpo tem sua própria sabedoria natural e que esta sabedoria guiará a pessoa à totalidade. Como a maioria das afirmações generalizadas, esta teoria pode levar-nos para longe de nosso objetivo. Por exemplo, a premissa de que, encorajar um paciente a hiperventilar e entrar numa catarse irá, naturalmente, levá-lo a um estado de bem estar, certamente não é verdadeira.


Estratégias com diferentes estilos de respiração

Intervenção para o hiperventilador: Ao trabalhar com um hiperventilador energético e expressivo, o terapeuta pode levar o paciente a aumentar levemente sua respiração e elevar o nível de ativação. Isto estimulará o sistema nervoso simpático a tornar-se dominante, levando a uma descarga parassimpática e uma resposta de alívio. Desta forma, o paciente vivenciará a experiência de um ciclo de carga e descarga e se familiarizará com a sutileza de sua própria experiência interna. O terapeuta deverá encorajar o paciente a desenvolver um interesse pela experiência interna e uma orientação mais interna (contrastando com a explosão emocional). Através deste tipo de experiência, o terapeuta está ensinando ao paciente que aumentos graduais podem levar a experiências positivas.

Faz-se necessário ajudar o paciente a seguir lentamente, pois ele quer forçar, deseja maior carga, intensidade, e experiência, e também será necessário ajuda-lo a ultrapassar os bloqueios para alcançar um o alargamento e aprofundamento no seu desenvolvimento pessoal. Por si próprio o paciente geralmente tentará utilizar a respiração para satisfazer o padrão ao qual é adicto. A tarefa do terapeuta é encorajar o prazer de uma experiência mais sutil. Um importante objetivo da terapia é substituir a tendência de gerar mais intensidade por um senso de facilitar o aumento e o domínio da carga, levando a uma liberação mais suave. O terapeuta pode discutir com o paciente sobre a percepção das mudanças incluindo perguntas do tipo: “O que está acontecendo agora?; Como é estar assim?; De que forma isso é diferente?; O que você quer a partir deste lugar?; O que você sente nesta área?; Quais são as imagens a partir de seu corpo?; Quais são as sensações que você está experimentando?; De que forma elas são diferentes das anteriores?

Intervenção para o hipoventilador: Quando o padrão respiratório de um paciente está mais próximo da hipoventilação, o objetivo é titular a experiência gradativamente, apenas o

suficiente para estimular suavemente a respiração, levando a uma ativação mínima. Isto tenderá a normalizar o padrão respiratório e auxiliará o paciente a desenvolver sua própria capacidade de conter mais carga sem fragmentação, levando a uma maior vitalidade central sem ansiedade.

O objetivo aqui é deslocar a homeostase numa direção que possa acolher mais vida. O paciente tenderá a dissociar conforme for se aproximando de qualquer coisa semelhante a uma resposta de hiperventilação.

O terapeuta precisa ajudar o paciente a permanecer presente com a excitação que está sendo aumentada gradualmente. Conforme a respiração do paciente começa a alcançar um padrão de maior normalidade ele, de fato, começará a associar. A princípio, isto pode não ser confortável e ele pode precisar de encorajamento adicional para tolerar a experiência. Ele pode se deslocar para uma leve dissociação e o terapeuta precisará direcioná-lo de volta para o que está sendo associado.

O processo de trazer o paciente de volta para a consciência num nível de associação mais alto, estimulando suavemente e então re-associando quando o paciente dissocia ligeiramente, é a abordagem recomendada quando se trabalha com este padrão. A idéia é utilizar técnicas respiratórias para ajudá-lo alcançar o ponto onde ele pode associar sem passar para a dissociação. Se ele dissocia durante o processo, o terapeuta precisa identificar o fato e garantir que a dissociação seja mínima e trazer o cliente de volta através da re-associação.

Na psicoterapia corporal, é importante trabalhar com a consciência do corpo e com uma consciência muscular. Por exemplo, o terapeuta pode dar apoio fisicamente na coluna na região lombar e perguntar. “Como você sente este apoio na coluna?” ou “Como este apoio afeta sua respiração?”. Este tipo de intervenção pode induzir a uma maior consciência corporal, e lembremos que até que o paciente tenha consciência das sensações musculares e tenha incorporado sua própria experiência, ele não conseguirá modificar padrões antigos. Esta abordagem requer muita educação e informação para que o paciente possa entender o benefício pessoal do trabalho.

Seção 4: Desenvolvendo uma Experiência Espiritual

Quando falamos de uma experiência espiritual, talvez seja mais correto pensar sobre as nossas áreas não desenvolvidas. A extensão dessas áreas irá então, levar ao desdobramento de dimensões espirituais. É importante ter uma visão desta experiência como um desenvolvimento e não apenas como uma prática psicológica ou espiritual. É um processo evolutivo no desenvolvimento humano.

Nós acreditamos que a função do terapeuta é encorajar o paciente a viver de maneira mais confortável dentro de si mesmo, e apóia-lo a superar o vício de alcançar experiências transcendentes e espirituais. Para fazer isso, precisamos ajudá-lo a desenvolver a riqueza diária da experiência interna. Uma vez que esta riqueza seja descoberta e incorporada como parte de sua experiência contínua, sua vida espiritual será naturalmente gerada a partir da riqueza da experiência interna, e não será um objetivo em si mesmo. Precisamos promover a noção de que somos seres biológicos, presos na carne e no espírito anímico da carne; que nós somos uma parte do cosmos e de toda a existência.

A abordagem para a experiência espiritual será diferente para o hipo e hiperventilador. Este último irá querer forçar e tenderá a se focar ou se viciar em qualquer abordagem que possa 

gerar a experiência transcendental. Por outro lado, o hipoventilador entrará na experiência espiritual como algo dissociado da vida diária. A tarefa do terapeuta é levar ambos os tipos de volta para o desenvolvimento diário. Então, ao invés de acostumar-se com a espiritualidade fora de si, a pessoa aprenderá a entregar-se aos seus próprios fluxos vegetativos e encontrará a natureza de sua realidade dentro de seu auténtico self instintivo.

Seção 5: Uma Explicação da Estrutura do Caráter e Modelo “Bodynamic”

Em todo este trabalho são utilizados os termos Estrutura de Caráter e Modelo “Bodynâmico”. A seção seguinte tem o objetivo de prover definições e estruturas para esclarecer esses termos para os leitores que não estão acostumados a eles.

Estrutura de caráter
Embora o material sobre estrutura de caráter citado a seguir tenha sido desenvolvido originalmente por Reich, ele é extraído do modelo Bioenergético de Lowen.

O caráter é definido como um padrão de comportamento fixo, o modo característico que um indivíduo tem de lidar com seu esforço por obter prazer. É estruturado no corpo na forma de tensões musculares crônicas geralmente inconscientes, que bloqueiam ou limitam os impulsos para se dirigir ao mundo e alcança-lo. O caráter também é uma atitude psíquica, reforçada por um sistema de negações, racionalizações e projeções, e atrelada a um ideal de ego que afirma seu valor. A identidade funcional do caráter psíquico com a estrutura corporal ou postura muscular é a chave para a compreensão da personalidade, uma vez que nos capacita a perceber o caráter a partir do corpo, a explicar uma atitude corporal pelas suas representações psíquicas e vive-versa.

Na bioenergética, as diferentes estruturas de caráter são classificadas em 5 tipos básicos. Cada tipo tem um padrão de defesa próprio em ambos os níveis, psicológico e muscular, que o distingue dos outros tipos. É importante notar que esta é uma classificação de atitudes defensivas e não de pessoas.  Reconhece-se que nenhum indivíduo apresenta um tipo único, puro, e que todas as pessoas em nossa cultura, combinam alguns ou todos esses padrões defensivos em sua personalidade. A personalidade de um indivíduo, diferentemente de sua estrutura de caráter, é determinada por sua vitalidade; isto é, pela força de seus impulsos e pelas defesas levantadas para controlar esses impulsos.

Não existem dois indivíduos semelhantes, nem em sua vitalidade inerente nem nos padrões de defesa originados nas experiências de vida. No entanto, faz-se necessário classificar em tipos para que haja compreensão bem como clareza na comunicação. Os cinco tipos são denominados esquizóideoralpsicopatamasoquista, e rígido. Estes termos são utilizados por serem definições de transtornos de personalidade conhecidas e aceitas na profissão psiquiátrica. Nossa classificação não transgride criterios estabelecidos.

Estrutura de caráter esquizóide: O termo esquizóide descreve uma pessoa cujo senso de si mesma é diminuído, cujo ego é fraco e cujo contato com o corpo e seus sentimentos é grandemente reduzido.

Estrutura de caráter oral: Dizemos que uma personalidade é oral quando ela contém muitos traços típicos da infância, do período oral da vida. Esses traços são fraquezas no aspecto da independência, uma tendência a amparar-se em outros, uma agressividade diminuída e o sentimento interior de necessitar ser cuidado, apoiado e protegido.



Estrutura de caráter psicopata: A essência da atitude psicopata é a negação do sentimento. Todos aqueles que possuem este caráter, apresentam um grande investimento de energia na propria imagem. O outro aspecto dessa personalidade é a propensão ao poder, e a necessidade de dominar e controlar.

Estrutura de caráter masoquista: O indivíduo masoquista é aquele que sofre e se lamenta ou reclama, mas se mantém submisso. A submissão é a tendência dominante do masoquista. Se o caráter masoquista demonstra uma atitude submissa em seu comportamento externo, ele é exatamente o oposto interiormente. Num nível emocional mais profundo, ele tem sentimentos fortes de despeito, negativismo, hostilidade e superioridade.

Estrutura de caráter rígida: O conceito de rigidez deriva da tendência desses indivíduos em se manterem rijos, tensos – orgulhosos. Desta forma, a cabeça é mantida bem para cima e a coluna reta. Estas particularidades poderiam ser consideradas positivas se não fosse pelo fato de que o orgulho é defensivo, e a rigidez inflexível. O caráter rígido tem medo de se entregar, se render, associando isso à submissão e colapso. A rigidez torna-se uma defesa contra a tendência masoquista subjacente.

A estrutura de caráter define a maneira com que o indivíduo lida com sua necessidade de amar, sua busca por intimidade e proximidade, e seu esforço para obter prazer. Vistas por este ângulo, as diferentes estruturas de caráter formam um espectro ou hierarquia, na qual num extremo está à posição esquizóide, que suprime da intimidade e proximidade por serem muito ameaçadoras, e no outro extremo está a saúde emocional, onde não há contenção do impulso de buscar abertamente a proximidade e o contato. Os diversos tipos de caráter se encaixam nesse espectro ou hierarquia conforme o nível em que permitem a intimidade e o contato.

Modelo Bodynamic
Fundado por Lisbeth Marcher, a teoria Bodynamic é o resultado do trabalho de um grupo de terapeutas Dinamarqueses que juntos estudaram, trabalharam e desenvolveram por mais de 15 anos. A teoria combina a experiência de muitas pessoas que trabalharam com um sistema poderoso, descobrindo e expandindo seus limites continuamente. As distintas personalidades envolvidas nesse projeto estão refletidas nos muitos aspectos da teoria. Um dos aspectos, a Psicologia de Desenvolvimento Somático, realiza sua potência através da integração de novas pesquisas no desenvolvimento psicomotor de crianças com sistemas de psicoterapia profunda. Esta abordagem de desenvolvimento permite a ativação direta de habilidades motoras não desenvolvidas (corpo) e recursos psicológicos (mente).

Marcher tinha consciência da idéia Reichiana de que, se as crianças forem frustradas em uma atividade, elas podem tencionar seus músculos para deter essa atividade. Ela entendeu que quando a frustração de uma atividade de desenvolvimento é precoce ou severa, a criança pode se tornar resignada e a musculatura correspondente será flácida, (hipotônica). Se a resposta do ambiente for adequada, os músculos terão um tônus neutro e a criança tenderá a ter uma resposta saudável às situações futuras. Considerando que cada fase de desenvolvimento compreende um conjunto específico de tarefas psicomotoras de desenvolvimento, e que todas essas tarefas possuem músculos associados a elas, podem ocorrer três resultados globais para cada fase: 1) resignado (frustração precoce), 2) retido ou rígido (frustração tardia), e 3) saudável (resposta adequada).

Vejamos quais são as sete fases de desenvolvimento, listadas em ordem crescente e pela questão estrutural com que nelas se lida: existêncianecessidadeautonomiavontade,

amor/sexualidadeopinião, e solidariedade/desempenho. Cada uma será entendida em termos de um posicionamento precoce, um posicionamento tardio, e um posicionamento saudável. Tomando a fase da vontade (2 a 4 anos de idade) como exemplo, o posicionamento precoce é caracterizado pelo auto-sacrifício, o posicionamento tardio é caracterizado pelo julgamento, e o posicionamento saudável, pela assertividade. Ver as dificuldades dos pacientes nesses termos ajuda o terapeuta exprimir as intervenções apropriadamente. Um esquema das sete fases é apresentado no Apêndice “A” com um resumo das diferentes fases - precoce, tardia e saudável – com os estágios, bem como uma correlação aproximada ao modelo Bioenergético de Lowen.

Ao possuir essa informação específica, o terapeuta tem como definir com precisão as áreas não desenvolvidas que correspondem a uma questão em particular. A possibidade de trabalhar diretamente com a resignação somática transforma a natureza da psicoterapia. Ao invés de focar na resistência, compreensão ou libertação emocional, os pacientes aprendem a sentir seus corpos de uma forma que os ajuda a despertar esses recursos não desenvolvidos, os quais foram deixados de lado ou nunca foram aprendidos. A conquista desses novos recursos, que são exatamente aqueles necessários (mas ausentes) facilita grandemente a resolução do trauma do desenvolvimento. Ao mesmo tempo capacita o paciente a novas ações em sua vida diária, inclusive ao desenvolvimento de recursos para recolocar-se dentro de sua famílias-de-origem e seu contexto social.

Um dos aspectos marcantes da abordagem do modelo Bodynamic é o mapa corporal, uma ferramenta diagnóstica desenvolvida empiricamente. O mapa corporal é um mapeamendo codificado com cores da elasticidade (hipo, hiper ou neutro) de mais de duzentos músculos. Os terapeutas do modelo Bodynamic são treinados para fazer esse mapa para cada paciente. O teste é feito manualmente e apresenta um índice de repetição de mais de 90%. Com o mapa, pode-se ler a história do desenvolvimento do caráter do paciente. Pode-se, literalmente, ver quais estágios são caracterizados pelo trauma de desenvolvimento. Os resultados do teste podem ser analisados funcionalmente, nos termos dos recursos e habilidades do paciente em áreas como vínculação, grounding, foco, limites, etc. Traumas de choque e de nascimento também podem ser lidos diretamente a partir do mapa.

A abordagem do desenvolvimento somático também pode levar a novos e interessantes caminhos para se trabalhar com uma ampla gama de questões, inclusive família-de-origem, limites somáticos, choque (tais como abuso físico e sexual), questões relacionadas às experiências uterinas e de nascimento , e o uso de terapias somáticas com crianças.

Com essa informação introdutória sobre Estrutura de Caráter e Bodynamic em mente, podemos agora atentar para as aplicações práticas do trabalho respiratório. A estratégia para trabalhar com um paciente em particular depende não apenas de sua composição psicológica mas também de sua estrutura de caráter atual. Por exemplo, um hiperventilador poderia ser uma pessoa com uma significativa estrutura de vontade, que se manteve firme suportando situações de vida difíceis, ou poderia ser uma estrutura de desenvolvimento tardio, tal como as estruturas de opinião rígida ou de solidariedade/desempenho.

Haverá estratégias ligeiramente diferentes para cada uma dessas estruturas relacionadas, mas elas têm atributos em comum. Se um paciente com estrutura de vontade está tendo dificuldade em passar por uma carga, ele pode ficar com medo da ocorrência de uma explosão e ficar preso enquanto estiver tentando passar da carga para a descarga. Por outro lado, um paciente com estrutura rígida tentará forçar sem sucesso, fracassando na conquista do relaxamento. Ambos pacientes terão uma dificuldade similar conforme ficarem presos na carga sem conseguir passar por ela.

Ao trabalhar com esses pacientes, especialmente com a contida estrutura de vontade, o terapeuta necessita ser tanto firme quanto gentil. Talvez seja necessário que ele auxilie o paciente conforme ele respira, e libere a respiração através da utilização de massagem ou apoiando a coluna. A respiração pode ser utilizada como um complemento para a massagem, assim que o paciente estiver se preparando para se soltar. Isto diminuirá a atividade mental da pessoa, promovendo uma sensação de alívio e tranqüilidade, e permitirá que ela se entregue.

Todas as estruturas de caráter tardias têm algumas questões envolvendo a entrega. Quando ocorre a entrega e o paciente está respondendo através do sistema parasimpático, ele está muito mais atento às sutilezas das sensações. A comparação do estado simpático ao parassimpático pode ser assemelhada à Lei de Weber Fechnen: Se você tem cem velas em um quarto e tira uma delas, você não percebe; mas se você tem apenas quatro velas e tira uma, você pode perceber a diferença.

No estado parassimpático, o paciente começa a perceber e experimentar sensações além de dor, apoio, e tensão, e começa a se dar conta de que existe um outro universo disponível para ele. Ele agora é capaz de experimentar uma completa gama de sensações. Mais tarde, ele pode aprender a acessar essas sensações por si próprio, com ou sem a respiração. Ele se torna consciente de sensações mais sutis, suaves, e de fluidez, vida, conexão, ganhos e poder. Cada uma destas sensações será sentida diferentemente por pessoas com diferentes estruturas de personalidade, mas qualquer que seja sua constituição, cada pessoa começa a ter um sentimento de que há algo sob a tensão e a energia. Pessoas com um padrão de estrutura de vontade são mais propensas a estar conscientes da tensão, enquanto aquelas com uma estrutura de caráter rígido/realizador estarão mais conscientes da excitação, da capacidade de lidar com sensações energéticas e o subseqüente movimento para a entrega.

Uma vez que os pacientes de estrutura de vontade precisam aprender a passar através da tensão e experimentar a carga, o terapeuta deve trabalhar com suas tensões a ajudá-los a soltar a musculatura. Por outro lado, se os pacientes têm uma estrutura rígida, o terapeuta precisa ajudá-los a conquistar um fluxo livre de sensações de forma que eles possam conectar suas diferentes experiências. O terapeuta deve impedir que o paciente vá para os mesmos padrões fixos. Uma vez que o paciente comece a aceitar e sentir-se confortável com as novas sensações e obter confiança resultante de uma experiência bem sucedida, ele irá então ser capaz de relaxar seus padrões de tensão ou passar através de seus padrões de controlar a intensidade.

Um paciente hipoventilador, geralmente personifica as primeiras estruturas de caráter. O primeiro benefício que o hipoventilador experimentará ao aumentar a respiração é captar mais oxigênio, e isto o capacitará a obter mais energia e conter mais carga. A pessoa de estrutura oral ou de necessidade, por exemplo, será capaz de sentir alguma vitalidade, percepção de seu centro e satisfação. É crucial que o hipoventilador aprenda a desenvolver a auto-ajuda. (Nota: Este não é um trabalho regressivo, é mais sensato evitar a utilização da respiração para trabalho regressivo, mas o trabalho respiratório pode ser útil para dar alguma auto-ajuda extra).

Se o paciente tem uma estrutura de existência mentalmente orientada, é importante fornecer a ele um forte senso de segurança, de forma que ele não sinta estar fragmentando-se ao experimentar alguma carga.



Ele precisa aprender a sentir a carga diretamente no corpo, e então trabalhar em sua contenção. Sua tendência natural será fugir da sensação aumentada, portanto faz-se necessário desenvolver a carga aos poucos, ajudando o paciente a ficar com a experiência. 
Este padrão de evitação é encontrado em ambas as estruturas de existência mental e emocional, mas é expresso de diferentes maneiras. O tipo mental tende mais a contorcer, coçar, e arranhar, ao passo que o tipo emocional tende mais a manifestar emoção, ficar histérico, ou acaba compelido a expressar algum sentimento. É possível ajudar ao paciente a experimentar a sensação. O tipo emocional precisa aprender a conectar-se com sua natureza energética, à sua realidade corporal, ao passo que o tipo mental precisa conectar-se mais com suas sensações corporais de forma que possa enfrentar, tolerar, e controlar parte da carga aumentada.

É importante que o terapeuta tenha cuidado para não forçar a estrutura mental para a dissociação, ou a emocional para a catarse, uma vez que ambas são, de fato, formas de dissociação. O terapeuta necessita trabalhar no nível onde o paciente seja capaz de controlar e suportar a carga. Nas estruturas de caráter primitivas (existêncianecessidadeautonomia, e vontade), a respiração não é a melhor abordagem para expor questões de desenvolvimento não resolvidas. Nas estruturas posteriores (amor/sexualidadeopinião, e solidariedade/desempenho), a respiração é mais útil. O paciente tem os recursos para integrar o impacto, se houver desenvolvido mais força egoica e estabilidade autonômica nos estágios de desenvolvimento iniciais.

Os pacientes que hiperventilam, que são caracteristicamente as estruturas posteriores, podem utilizar a respiração como uma ferramenta para descobrir níveis mais sutis de sua experiência. Aqui, o terapeuta ajuda ensinando o paciente a relaxar, prestando atenção ao sistema nervoso. O relaxamento acontece quando o cliente flui na excitação ou carga de maneira bem sucedida e é capaz de entrar em diferentes estados alterados de consciência.

Esse tipo de relaxamento profundo pode apoiar a hiperamnésia e uma habilidade para fazer mais associações, assim como o álcool e algumas drogas moderadas conseguem afrouxar o super ego, nosso sensor e juiz crítico. Quando um paciente se entrega a um relaxamento profundo, ele é capaz de acessar mais material de sua essência, não necessariamente apenas memórias, mas também como ele enxerga o seu self, como ele sente, e como ele experimenta a diferença entre o seu self público e particular, os sentimentos profundos e os desejos.

Contrariamente, as estruturas hipoventiladoras necessitam ser fortemente encorajadas, apoiadas e auxiliadas a respirar. Isto pode ser feito com um suave trabalho no tórax. Se o terapeuta colocar a mão suavemente na lateral do tórax do paciente, irá encorajá-lo a utilizar a respiração lateral, que geralmente, é mais espontânea. O paciente poderá precisar de apenas duas ou três respirações antes de experimentar uma notável sensação de carga do sistema nervoso. Ao permanecer com essa experiência até que a carga se associe completamente como sensação ou sentimento, o paciente pode ir em direção à integração. Neste momento, o terapeuta pode fazer algum movimento ou trabalho emotivo. O paciente pode ficar um pouco tonto, ou ficar um pouco inquieto, e pode precisar de contato ou apoio para alcançar liberação. É importante para o paciente, dosar a experiência gradualmente, ao invés de forçar a passagem por este ponto de tontura ou de cabeça leve.

Neste ponto, o objetivo da terapia é desenvolver algum senso de fluxo de energia, e reforçar a capacidade do paciente para lidar com a carga sem fragmentação. Esta é uma experiência corretiva muito importante porque reorganiza a crença básica do cliente no Eu, e sua capacidade de integrar sensações mais intensas. Por exemplo, uma estrutura do tipo

mental acredita que vai, de alguma forma, se desestruturar ou desintegrar. Existem variações, mas é um tema geral. Quando um paciente consegue experimentar mudanças na realidade sem se desestruturar, ele está passando para uma maneira mais funcional de estar no mundo.

Seção 6: Estratégias para Questões Traumáticas e de Desenvolvimento

Tendo examinado as diferentes estruturas de caráter e os padrões respiratórios específicos associados com elas, torna-se possível agora, olhar para as estratégias terapêuticas para ambas as questões traumática e de desenvolvimento.

Começamos examinando como trabalhar com as questões incompletas de desenvolvimento dos hiperventiladores. Geralmente, essas pessoas não expressam ou não vivenciaram muito a espiritualidade. Talvez elas freqüentem uma igreja ou sinagoga, mas uma experiência espiritual verdadeira geralmente lhes foge. Exceto por uma sensibilidade emocional, os hiperventiladores são fortemente devotados, como na estrutura de “vontade”, ou não acreditam na experiência espiritual, como a estrutura rígida (“Não é racional” ou “Eu estou tentando, mas eu não pareço estar encontrando-a”). Às vezes eles irão expressar decepção, uma vez que eles tentaram meditar para modificar sua realidade e nada aconteceu. Nestes casos, um terapeuta pode trabalhar diretamente com a respiração para construir um pouco de carga. Eventualmente, a pessoa começará a entrar em experiências de descarga mais profundas, estados alterados de consciência, e estados respiratórios suspensos. Eles começarão a ‘ver’ imagens e vivenciar sensações corporais sutis.

Estas pessoas podem estar substancialmente presentes em seus corpos sem ter os problemas encontrados nos indivíduos das primeiras estruturas. Quando sua experiência começa a mudar, eles começam a desenvolver interesse na espiritualidade e querem explorá-la. Os indivíduos da estrutura de amor/sexualidade então, começam a abrir-se sexualmente, vivenciando amor juntamente com sexualidade, como uma união espiritual. Eles se tornam mais capazes de conectar com seus sentimentos e desejam um relacionamento mais completo do que tinham anteriormente. Indivíduos da estrutura de vontade que têm tentado vencer a barreira de suas tensões sexuais, ou realizadores que estivessem tentando alcançar o orgasmo, começam a ceder. Uma sensação de derretimento é um passo à frente positivo em seu desenvolvimento espiritual.

Para pessoas com uma estrutura mental (esquizóide), a espiritualidade tende a ser acentuada ou vinculada a imagens ou pensamentos. Conforme a pessoa se abre, os sentimentos do corpo se tornam mais ancorados na espiritualidade, começando com uma conexão mútua. Trabalhar com a respiração é uma boa abordagem nesta situação, porque estes pacientes possuem sentimentos reais pela primeira vez e começam a se abrir em seus corpos, movendo-se com a respiração e sentindo prazer.

Isso convida inicialmente a uma transferência positiva, e apóia o desenvolvimento de uma boa aliança terapêutica. Um trabalho respiratório ocasional neste ponto é muito útil. Também pode ajudar o paciente a desenvolver a força para resistir ser inundado por sensações e qualquer material emocional espontâneo que possa surgir. Conforme ele aprende a controlar a carga e tolerá-la, a experiência se torna a de desenvolver uma capacidade pessoal aumentada e limites saudáveis.

Ao trabalhar com hipoventiladores e questões de desenvolvimento, um terapeuta necessita ensiná-los como conter a sensação aumentada e a carga, de forma que eles possam experimentar a carga em seus corpos enquanto se mantém ancorados nas sensações.

Caso contrário, a energia subirá e se concentrará na cabeça. Para que o paciente se mantenha ancorado, ele precisa aumentar sua energia e então move-la para baixo. É essencial que o terapeuta saiba quando a energia se move de uma área do corpo para a outra. Quando um grupo trabalha com respiração forçada do tipo hiperventilação, geralmente ninguém, que tenha a capacidade de reconhecer os fluxos e mudanças vegetativas, cuida dos movimentos da energia de cada pessoa. Isto pode ser perigoso. A respiração é uma ferramenta poderosa para mover a energia, desde que seja utilizada apropriadamente e conduzida por profissionais qualificados. Se a intenção é a de utilizar as abordagens satisfatoriamente e com sensatez, são necessárias diretrizes éticas e treinamento adequado (Macnaughton, Bentzen, and Jarlnaes).

As questões de desenvolvimento são diferentes de questões de choque ou trauma e necessitam ser abordadas diferentemente. Em questões traumáticas a respiração pode ser utilizada para ajudar um paciente conectar-se com o sistema nervoso autônomo e desenvolver um senso de recursos que pode ser utilizado para ajudar. Um terapeuta pode escolher fazer isso antes de trabalhar com o choque em si. É útil trabalhar suavemente com os padrões respiratórios durante a renegociação da resposta do trauma antes de utilizar o trabalho respiratório para melhorar integração e o senso de integridade.

Seção 7: As Contra-indicações

O trabalho respiratório pode ser contra-indicado, ou motivo de preocupação em certas condições médicas, e é importante que o terapeuta esteja a par deste potencial. Tais condições incluem diabete, hipoglicemia, lupus, esclerose muscular, problemas cardíacos, câncer, úlcera estomacal, epilepsia, problemas glandulares, doenças urológicas, e doenças do fígado.

A hiperventilação pode causar uma queda do açúcar no sangue e esta situação pode ser significativa para pacientes com diabete e hipoglicemia. Uma quantidade de pessoas reativou seus sintomas de lupus, esclerose muscular e outros transtornos auto-imunes e condições crônicas através de intensa respiração forçada. Pessoas cujos sintomas estavam atenuados durante anos, tiveram que ser hospitalizados porque seus sintomas retornaram. O stress aumentado da hiperventilação poderia precipitar um ataque cardíaco naqueles com problemas nessa área, e possivelmente poderia aumentar a taxa de propagação de câncer no corpo.

Terapeutas não devem iniciar o trabalho respiratório com pacientes que possuam uma úlcera estomacal ativa. No entanto, se o terapeuta puder utilizar a respiração de maneira bastante sensível e prudente, é possível ajudar a aliviar problemas estomacais e intestinais. Um dos testes de diagnóstico para epilepsia é se o cérebro irá produzir ondas pontudas quando eles hiperventilam, mesmo que seja por apenas algumas poucas respirações. Lupus é um transtorno auto-imune caracterizado por um colapso e desorganização significativos do sistema e, dessa forma, qualquer energia que seja introduzida deve ser da menor dosagem possível caso contrário, o sistema se tornará mais desorganizado.

Similarmente, problemas endócrinos (tais como tiróide hiperativa – doença de Graves) são um provável resultado de desorganização do sistema nervoso central: Se for introduzida muita energia através da respiração, o terapeuta pode não ter condições de controlar o que irá acontecer a alguns dos órgãos. Por exemplo, um paciente com problemas nos rins que utilize a hiperventilação, forçará os rins, fazendo com que eles secretem íons de bicarbonato adicionais e colocará mais stress nos próprios rins. Isto poderia fazer com que eles falhem. Se o órgão sob stress for o fígado, ele pode não ser capaz de lidar com todo o material

tóxico adicional que estiver sendo gerado como resultado da respiração aumentada. Estas contra-indicações não são necessariamente absolutas, mas são preocupações e precauções sérias que o terapeuta deve considerar.

Seção 8: Preocupações Psicológicas, Problemas Dissociativos e Abuso Sexual

Considere este cenário: Sendo um terapeuta, você está trabalhando com o padrão respiratório de um paciente e ele dissocia significativamente na terceira respiração. Se você se surpreender, faltou algo na fase de avaliação. Obviamente, o terapeuta deve conhecer as estruturas de caráter e psicopatologia o suficiente para saber quando não se deve utilizar trabalho respiratório. Se você tem um paciente que seria tipicamente diagnosticado como borderline ou personalidade múltipla, é muito difícil saber qual o significado ele irá colocar naquela experiência de estado alterado. O paciente pode respirar algumas vezes, ser inundado por imagens e projetá-las sobre você. Tal paciente necessita conectar muito mais lentamente, em termos de transferência, ao invés de ter uma transferência rápida provocada por uma hiperventilação.

Um exemplo adicional dos problemas de percepção que estados alterados de consciência podem criar: Uma pessoa vai ao dentista e utiliza óxido nitroso[1]. Isto libera algumas imagens, sentimentos ou fantasias sexuais. Uma vez que os limites da pessoa não estão claros quando ela está neste estado alterado de consciência, ela fica confusa e não tem certeza se o dentista a molestou ou não.

O trabalho respiratório muito raramente é apropriado para trabalhar diretamente com choque e trauma, apesar de ser útil em algumas situações (mencionadas anteriormente neste artigo) para desenvolver recursos e revelar material inconsciente prévio. Isto é mais real para indivíduos com estruturas de caráter tardias. Como terapeuta, você não quer forçar seus pacientes prematuramente.

Personalidades histérica, obsessiva ou explosiva

Pacientes obsessivos podem acostumar-se com o trabalho respiratório. Se ele for realizado corretamente, o terapeuta pode utilizar a hiperventilação para ajudar a quebrar a obsessão, mas isso requer sutileza e destreza. O terapeuta deve saber como levar a respiração até um determinado ponto, atiçar e estimular um pouco, obter uma boa conexão vincular e ser capaz de utilizar algumas outras intervenções para afrouxar. Se você forçar muito, irá simplesmente reforçar o comportamento obsessivo. Se a pessoa for histérica, o terapeuta deve apenas desmascarar as questões emocionais gradualmente, do contrário, ela tenderá a vivenciar uma inundação. Existem, ao menos, cuidados no trabalho com personalidades explosivas e violentas. Forçar estes pacientes pode gerar comportamento violento.

Não é adequado introduzir trabalho respiratório para pacientes que estejam lidando com situações não resolvidas de nascimento e intra-uterinas. Mais precisamente, é importante que a respiração inicie a partir da geração de ritmos biológicos profundos, não aqueles impostos pelo terapeuta. A pessoa pode haver respirado no nascimento e criado um choque ou reação similar; se o terapeuta introduzir um padrão respiratório mecânico, o paciente ficará preso ainda mais no padrão de choque. No entanto, se o paciente já trabalhou algum choque de nascimento ou intra-uterino, a respiração abdominal suave, e então algum padrão ofegante suave podem se utilizados como recurso para recapturar um pouco da “felicidade intra-uterina”. É importante ter em mente que estes passos devem ser colocados dentro de um contexto adequado. Um terapeuta não deve fazer uma sessão de

“renascimento” se o paciente ainda apresenta choque de nascimento ou qualquer choque relacionado ao pescoço; as respostas podem ser imprevisíveis se o paciente tentar forçar fisicamente através desse choque.

Resumo

Este documento discutiu as implicações ao tratamento da resposta respiratória de indivíduos no processo de psicoterapia. Os padrões ou estilos de respiração foram relacionados num continuum que varia daqueles indivíduos que respiram em excesso (hiperventiladores) ao outro pólo de indivíduos que respiram de menos (hipoventiladores). A relação entre respiração, ansiedade e consciência foi discutida com base nessa polaridade. Foi explorada a importância de se colocar atenção na respiração e as intervenções em padrões respiratórios. Isto levou à descrição de intervenções adequadas para os diversos padrões respiratórios e estruturas de caráter. A necessidade de incluir cuidado e flexibilidade na aplicação das intervenções respiratórias foi descrita, o que levou à avaliação dos tipos de condições médicas e questões psicológicas onde as intervenções respiratórias poderiam ser contra-indicadas.

Conclusões

A atenção ao padrão ou tipo de respiração apresentada pelo paciente pode fornecer informações úteis ao terapeuta na prática da psicoterapia. A intervenção no padrão respiratório de um paciente pode ser útil na indução do paciente à auto-regulação e a um senso de integridade. Estas intervenções devem ser utilizadas dentro de um contexto de compreensão do padrão respiratório do paciente, as implicações em suas questões psicológicas, neurofisiológicas, e de desenvolvimento (estrutura de caráter). Além disso, cuidados específicos necessitam ser mantidos em mente quando houver qualquer evidência de choque, trauma, condições médicas ou questões dissociativas. Espera-se que esta apostila forneça algumas diretrizes ao terapeuta que deseje estar atento e aplicar intervenções na respiração do paciente, com o objetivo de aumentar seu bem estar psicológico e espiritual.

Referências

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Developing a design inquiry model by conducting a restropective design analysis.
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Reich, Wm. (1945). Character Analysis. New York: Simon & Schuster Inc.

Russel, P. (1983). The Global Brain. Los Angeles: J.P. Tarcher.

Toffler, A. (1971). Future Shock.




Este artigo primeiramente apareceu no Energy and Character, The Journal of Biosynthesis, Vol 27, No 1, Abbotsbury Publications, London, England, e reimpresso sob autorização.





[1] Antigamente os dentistas utilizavam óxido nitroso, “o gas do riso”, como anestesia.

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